A Protegida de Maria
Em uma floresta moravam um lenhador, sua esposa e uma filha de três anos. A vida andava difícil, pois eles eram muito pobres e faltava-lhes até alimento. Certo dia o lenhador foi trabalhar e apareceu em sua frente a Virgem Maria, que pediu-lhe para que trouxesse sua filha até ela, para ser sua mãe e cuidar dela. Foi o que o lenhador fez.
Certo dia, Maria teve que se ausentar e pediu à menina que cuidasse das treze chaves para ela e disse que doze portas a menina poderia abrir, mas aquela cuja chave era a menor, a que abriria a décima terceira porta, ela não poderia abrir, pois seria causadora de sua infelicidade.
Quando Maria saiu e a menina ficou com as chaves, tratou logo de ver o que havia por trás das portas. Naquelas doze que ela tinha permissão de abrir estavam os apóstolos, um em cada uma. A visão que se tinha era linda. Ao chegar à décima terceira porta, a curiosidade foi mais forte e ela a abriu. Lá dentro estava a Santíssima Trindade em meio a fogo e luz, a menina tocou aquela luz e seu dedo ficou totalmente dourado. Bateu a porta e saiu correndo dali, apavorada. Esse pavor não passou e seu dedo também não voltou ao normal, seu coração batia acelerado.
Chegou o dia em que Maria retornou e solicitou a devolução das chaves. A menina as entregou e por três vezes afirmou não ter aberto a porta número treze. A Virgem disse a ela, vendo o dedo dourado que ela havia a desobedecido e ainda mentido, portanto não era mais digna de viver no Reino dos Céus. A menina caiu em um sono profundo e acordou em um lugar deserto. Tentou gritar, mas a voz não saía. Tentou fugir também, mas era detida por cercas vivas espinhosas e não podia sair de lá, prosseguir. Sua casa era um tronco oco, servia-lhe de abrigo do frio e da chuva, além de ser o lugar onde dormia. Ela comia raízes e frutos silvestres. Folhas serviam de cobertor. Ela chorava muito se lembrando de quando vivia no Céu e brincava com os Anjos.
Não demorou muito e suas roupas pereceram, o que lhe cobria da cabeça aos pés era um imenso cabelo dourado. Passaram-se anos assim.
Certo dia, um Rei das redondezas estava caçando e encontrou aquela bela mulher despida e com longos cabelos. Levou-a para seu castelo e deu a ela finas roupas e tudo em abundância. O Rei se apaixonou por ela e se casaram.
Chegou o primeiro filho e na primeira noite de vida dele apareceu a Virgem Maria e pediu que ela confessasse que abrira a décima terceira porta, sob ameaça de levar seu filho com ela. Ela novamente negou e seu filho fora levado pela Virgem. Nos dois anos seguintes, quando nasceram os outros dois filhos, aconteceu a mesma coisa. E pelas pessoas do povoado corria um boato que a esposa do Rei devorava os filhos. Quando seu terceiro filho sumiu, ela foi condenada à morte na fogueira. No último instante ela pensou “Ah se eu pudesse confessar que abri a décima terceira porta, antes de morrer...”. Nisso, a voz dela voltou e ela gritou “SIM MARIA, EU ABRI!”, foi quando começou a chover e Maria desceu do Céu com os três filhos dela e lhe disse com bondade que quem confessa e se arrepende do pecado sempre é perdoado. Entregou-lhe as crianças, sua língua se soltou e ganhou de presente a felicidade para toda a vida.
Irmãos Grimm