segunda-feira, 7 de novembro de 2011

RESENHAS DOS TEXTOS LIDOS PELOS EDUCANDOS

Mais um Natal

          Havia um aviso em um restaurante em Brighton, cujo dono mandou imprimir no cardápio, contra a vontade dos garçons: “Somos seus amigos e lhe desejamos um Feliz Natal. Por favor, não nos ofenda, dando-nos gorjetas”. E perto da porta de saída, os garçons penduraram uma caixinha com o letreiro: “Ofensas”. E no dia de Natal, os bares de Londres estavam fechados, como sempre. Mas achei um bar aberto e dentro dele havia várias pessoas bebendo cerveja e que já tinham ido à Igreja. Lá festejavam o Natal e também o ano novo. Mas muitas pessoas passam essas datas sozinhas, como é o caso de uma velhinha com mais de 80 anos de idade chamada Ethel Denham. Ela não tem marido nem filhos, mora sozinha em uma casa em Exeter, que comprou com o dinheiro de sua aposentadoria. Havia uma luz vermelha do lado de fora da casa que ela poderia acionar se estivesse em uma situação de emergência. Na noite de Natal essa necessidade veio absoluta. A velhinha não suportava estar sozinha, principalmente durante o Natal. Ela ascendeu a luz para que alguém viesse socorrê-la. Apareceu um guarda de serviço para socorrê-la. A velhinha lhe pediu que ficasse para conversar um pouco, o guarda com pena resolveu ficar. Para não ficar à toa, fez um chá enquanto conversava com Dona Ethel. Depois aproveitou e lavou a louça, limpou a cozinha e deu uma arrumada na casa. Assim ele acostumou mal à dona da casa, que na noite seguinte, após o jantar, ficou esperando o guarda tornar a aparecer. Ela ascendeu a luz do pedido de socorro e veio até sua casa um outro guarda, para saber o que havia acontecido. Mas esse não foi tão bondoso quanto o primeiro e quando a velhinha lhe pediu que ficasse e conversasse um pouco, ele a confortou e depois foi embora da casa, pois não era mais Natal, era um dia de serviço comum. Inconformada com o desaparecimento do primeiro guarda (ah, aquele tão bondoso guarda) a velhinha saiu na rua em um dia extremamente frio para procurá-lo, mas não o encontrou, então pediu, através do jornal, que o guarda aparecesse um dia em sua casa para um dedinho de prosa, um chá.

Há ainda outros, para os quais as necessidades materiais são de maior importância que o convívio. O vigário da minha paróquia, em West Hampstead, declarou em uma de suas missas que as pessoas precisam ser generosas no Natal e proporcionar aos pobres um fim de ano decente. Ele contou também uma parábola, sobre um inglês que foi passear no campo. Começou a chover e não havia onde ele se abrigar. Avistou uma árvore e foi ao encontro dela. Apesar de estar sem folhas, havia um buraco em seu tronco, onde o homem se abrigou. Quando a chuva parou, ele quis sair do oco da árvore, mas não conseguiu já que a água havia feito a passagem de madeira inchar. Ele pensou que ia morrer ali entalado. Então começou a meditar sobre o que havia feito em vida e percebeu que jamais havia pensado em seus semelhantes. Gastava dinheiro à toa, com bobagens. Foi-se diminuindo diante de si. Tanto diminuiu que conseguiu passar pelo buraco. E o vigário acrescentou um comentário sobre certo dono de um estacionamento. Ele disse que no dia de Natal havia uma placa escrita Feliz Natal e naquele dia o estacionamento era gratuito. “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade. Em tempo: a paz na Terra aos homens de boa vontade termina exatamente à meia-noite.”



 Fernando Sabino

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